26 Junho, 2019 / Iniciativas

À procura de soluções para os incêndios florestais

Sentar à mesa stakeholders da indústria, proprietários, investigadores, entidades públicas e bombeiros, para refletir sobre o problema dos fogos florestais. Foi o que aconteceu no workshop “Ruralidade e Incêndios – modelos de negócio disruptivos para proteção e valorização dos espaços florestais”, com o propósito de discutir duas propostas elaboradas por alunos da Nova SBE.

A opinião é unânime: ninguém imaginava, há cinco meses, quando os professores da Nova SBE pediram aos alunos que elaborassem propostas concretas de negócios com impacto na solução do problema dos incêndios florestais em Portugal, que isso conduzisse à realização de um encontro como o que decorreu a 30 de abril no Instituto Superior de Agronomia (ISA), em Lisboa.

Os docentes da cadeira General Management Practices não podiam prever o interesse que os projetos despertariam no júri que escolheu os dois negócios vencedores, entre os dez apresentados pelos alunos. Nem os membros do júri, constituído pela The Navigator Company, o proprietário florestal da área de estudo, um investigador do ISA e outro da associação de bombeiros, imaginavam que a qualidade das propostas os incentivaria a organizar este workshop.

A comissão organizadora do evento, a que se juntou o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), também não sabia que iria ter tanta adesão por parte dos convidados, desde investigadores a proprietários e associações florestais, representantes do setor industrial (das fileiras da madeira e do papel até à energia) e entidades nacionais e municipais responsáveis pela floresta e pelo combate aos incêndios.

Nem os participantes esperavam que a estrutura participativa do workshop os colocaria a discutir em grupos multi-stakeholder, com representantes de diferentes grupos de interesse, para encontrar soluções concretas para os principais problemas de implementação dos projetos de negócio apresentados. Muito menos os alunos dos dois projetos escolhidos alguma vez pensaram estar a apresentar os seus trabalhos no histórico Salão Nobre do ISA, perante cerca de 50 stakeholders do setor florestal.

Começar pelo início

Na base de tudo está a freguesia de Alvares, em Góis, que viu 60% da sua área ser destruída pelos incêndios de junho de 2017. A sua história de resiliência ao fogo foi analisada pelo Centro de Estudos Florestais do ISA, após o pedido de auxílio do Núcleo Fundador da Zona de Intervenção Florestal da Ribeira de Sinhel, num projeto de investigação financiado pelo jornal Observador.

Foi a partir deste case study que os alunos internacionais de mestrado da Nova SBE se lançaram ao trabalho, na cadeira de General Management Practices. Seguiram-se visitas de estudo ao local e a entidades com responsabilidade na gestão da floresta portuguesa – incluindo a Navigator, com os viveiros de Espirra e o complexo industrial de Setúbal –, para enquadramento das duas turmas no contexto nacional e elaboração de propostas de modelos de negócio que contribuíssem para reduzir a vulnerabilidade dos espaços rurais aos incêndios.

Dos trabalhos que daqui resultaram, “a escolha dos dois vencedores não foi difícil”, admite Paula Guimarães, responsável de Sustentabilidade da The Navigator Company, que integrou o júri e a organização do worskshop. “Mas fomos exigentes, e, embora sejam alunos de gestão que, à partida, não conhecem esta problemática dos incêndios, estavam preparados para responder às nossas questões”.

Apresentação projeto GreenCo

O “interrogatório” repetiu-se após a apresentação dos dois modelos de negócio: uma hipotética empresa de gestão florestal chamada GreenCo e uma potencial plataforma online chamada Plantaforma.

A primeira propõe consolidar o território fragmentado criando um fundo florestal que, através de uma subsidiária, obtenha dos proprietários o direito de uso e gestão das terras a troco de uma renda, faça o mapeamento da floresta, certificação e, por exemplo, um plano de emergência com a Proteção Civil e a criação de um corpo de sapadores para cada região.

O segundo projeto defende a criação de um mapa interativo da propriedade rural, com identificação de proprietários, caracterização dos terrenos, informação sobre o valor comercial e o risco de incêndio de cada parcela de terra, e a possibilidade de adquirir online serviços complementares, como de limpeza, individualmente ou em grupo com os vizinhos, bem como arrendar e vender a sua terra através de uma função de leilão. Mas serão estes modelos de negócio exequíveis?

Apresentação projeto Plantaforma

Avançar com soluções

Foi este trabalho de reflexão que se seguiu, realizado em cinco mesas redondas, das quais fizeram parte João Melo Bandeira, António Aires e Nuno Neto, da Direção de Gestão Florestal da Navigator.

Numa primeira fase, os grupos elaboraram uma lista de barreiras e dificuldades à implementação dos projetos. Os problemas mais enumerados (como a falta de mapeamento e cadastro das propriedades rurais, a pequena escala da propriedade nacional e a falta de espírito associativo, a elevada idade média dos proprietários e falta de conhecimento das novas tecnologias, a baixa produtividade e a falta de rentabilidade das propriedades, e o abandono das zonas rurais) foram depois distribuídos pelos grupos de trabalho, para serem encontradas soluções que permitissem a aplicação das propostas no mundo real.

Ao nível do cadastro e do território abandonado, os participantes sugeriram reunir a informação já existente em diferentes bases de dados (como as do registo predial, conservatórias e finanças), usar os Censos para obter mais informação sobre a propriedade florestal, obrigar ao levantamento topográfico dos terrenos sempre que houver transmissão, criar sociedades anónimas para gestão das terras sobre as quais não há consenso sobre a propriedade, e o Estado tomar posse dos terrenos com dono desconhecido.

Acerca da falta de rentabilidade das explorações, foi referida a importância da certificação e da investigação científica, e a necessidade de valorizar outros produtos florestais, como os sobrantes, que poderiam, por exemplo, ser canalizados para ecopontos florestais que substituíssem as queimadas e, depois, valorizados energeticamente com pequenas centrais locais, ou usados para compostagem ou biorrefinaria.

Para fixar pessoas no mundo rural, seriam necessárias políticas públicas e incentivos financeiros. Quais, exatamente, é assunto para nova reflexão.

Para já, as principais conclusões deste encontro serão expostas num relatório e, no final de maio, serão apresentadas perante o consórcio internacional do projeto que deu origem à ideia da Nova SBE, o ENABLE – European Network for the Advancement of Business and Landscape Education, cujo principal objetivo é criar uma plataforma europeia de educação para aumentar a sensibilização sobre o funcionamento dos ecossistemas. Para o evento, que decorrerá em paralelo com as conferências do Estoril, no campus de Carcavelos da Nova SBE, voltam a estar convidados os stakeholders envolvidos na discussão.

Paula Guimarães, responsável de Sustentabilidade na The Navigator Company, membro do júri dos projetos da Nova SBE e da comissão organizadora do workshop.

“Este evento é um exemplo do modelo de gestão da Navigator, assente numa política de sustentabilidade com preocupações desde a fonte da matéria-prima até ao fim da cadeia de valor. É fundamental contribuirmos para a resolução da problemática dos incêndios.”

 

“Percebemos que o problema dos incêndios não é só a dimensão da propriedade e a falta de limpeza das terras, mas também a falta de planos da proteção Civil e a falta de envolvimento do Governo para mapear a propriedade florestal.”

Carlota Dias da Silva, estudante do mestrado de Finanças e de Gestão Internacional na Nova SBE, membro do grupo que elaborou o projeto GreenCo.

 

“A maior dificuldade foi compreender quais são os problemas base, porque são tantos. Decidimos focar-nos na gestão florestal, para aumentar a probabilidade de as pessoas fazerem alguma coisa para mudar a situação.”

Julian Harzheim, estudante internacional do mestrado de Finanças e de Gestão Internacional na Nova SBE, membro do grupo que elaborou o projeto Plantaforma.

 

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