26 Junho, 2019 / Iniciativas

Prémio Navigator Art on Paper

Catherine Anyango Grünewald é a grande vencedora da segunda edição do Navigator Art on Paper, o prémio com que a The Navigator Company e o jornal Expresso distinguem o papel como suporte de inovação e criatividade.

A qualidade da obra artística da sueco-queniana Catherine Anyango Grünewald seduziu o júri da segunda edição do Navigator Art on Paper, o maior prémio de arte em papel no mundo.

“Interessam-me muito os potenciais das propriedades do lápis e do papel para transmitir temas sensíveis e complexos, assim como a relação entre materiais e sentido”, refere a artista sobre o seu trabalho, acrescentando: “A um dado momento das nossas vidas, a maioria de nós usou o lápis sobre papel como meio de autoexpressão, tanto para tirar apontamentos como para esboços. É assim que aprendemos. Espero que a utilização de materiais que são democráticos e quotidianos possa oferecer aos espectadores um ponto de acesso a temas difíceis.”

Qualidade artística, criatividade no uso do papel e uma linguagem nova e poética que fale deste tempo estiveram na base da decisão final do júri.

A The Navigator Company e o jornal Expresso promoveram uma exposição na Sociedade Nacional de Belas-Artes, onde o público pôde apreciar uma seleção das obras de Catherine Anyango Grünewald e dos outros quatro finalistas: Abu Bakarr Mansaray, Andrea Bowers, Maria Berrio e Mateo López.

CATHERINE ANYANGO GRÜNEWALD

Nasceu em Nairobi (Quénia), em 1982. Vive e trabalha em Estocolmo (Suécia). Um dos temas centrais do seu trabalho é o espaço público e como este é afetado por acontecimentos traumáticos; como este mesmo lugar também é símbolo da opressão sistémica, histórica e económica dos marginalizados. Escolheu trabalhar maioritariamente com lápis de carvão sobre papel, por causa do caráter democrático desta ferramenta, comummente utilizada, e, em particular, em contextos não artísticos. Através dos seus desenhos, tenta rescrever histórias e acontecimentos de forma a desvendar estruturas invisíveis de poder e violência. Durante dez anos, foi professora no Royal College of Art, em Londres, e atualmente leciona na Konstfack University of Arts, Crafts and Design, em Estocolmo.

“É uma artista muito criativa. Desenha com grafite, mas também usa o papel, rasgando-o e rasurando-o.” – Claire Gilman, jurada responsável pela nomeação

Os desenhos de Catherine Anyango Grünewald são feitos em duas texturas de grafite, para criar uma superfície simultaneamente mate e brilhante, assemelhando-se a negativos fotográficos.

Os outros finalistas

Analisados os portefólios dos 15 nomeados do júri, foi feita uma seleção de cinco finalistas, entre os quais se decidiu o vencedor, após uma discussão obra a obra. Conheça os restantes quatro.

ANDREA BOWERS

Nasceu em Wilmington (EUA) em 1965. Vive e trabalha em Los Angeles (EUA). É uma feminista e ativista cuja obra se debruça sobre temas da política contemporânea, servindo-se do protesto, da procura por uma justiça social e da desobediência como ferramentas para a prática artística. Utiliza a estética como forma de dar visibilidade a temas que vão desde os direitos das mulheres à justiça climatérica, da imigração às relações laborais. Os seus desenhos foto-realistas, muitos dos quais provenientes de imagens de marchas, são homenagens íntimas às vozes anónimas e individuais de quem defende a desobediência, o protesto cívico e luta pelos direitos de todos.

“Trata-se de uma artista muito reivindicativa, que utiliza o papel com uma forte componente ideológica.” – Nimfa Bisbe Molin, jurada responsável pela nomeação

ABU BAKARR MANSARAY

Nasceu em Tongo (Serra Leoa), em 1970. Vive e trabalha em Freetown (Serra Leoa). A guerra civil que eclodiu no seu país, em 1991, influenciou grandemente a sua obra. Desenha complexas máquinas e mecanismos futuristas, com uma imagética quer animalesca, quer alienígena. Esta estética baseada na ficção científica é a essência do afrofuturismo, em que a futurologia ficcionada está ligada à realidade quotidiana do continente africano e à cultura da tecnologia. Engendra desenhos que se assemelham a esquemas e diagramas de construção de máquinas por ele inventadas. De grandes dimensões, estas obras são feitas com grafite, esferográficas e lápis de cor, e despertam no espectador uma curiosidade invulgar.

 “É uma espécie de artesão do desenho em papel.” – Jacob Fabricius, jurado responsável pela nomeação

MARIA BERRIO

Nasceu em Bogotá (Colômbia), em 1982. Vive e trabalha em Nova Iorque (EUA). As suas grandes colagens, feitas através de uma escolha minuciosa de papel de fontes diversas, exploram a diversidade das cores e texturas. Construindo narrativas surrealistas, as suas obras inspiram-se na mitologia e no folclore sul-americano, bem como na sua própria biografia. As suas colagens retratam maioritariamente figuras femininas, que a artista descreve como “mulheres fortes, vulneráveis e corajosas, em harmonia consigo próprias e com a natureza”.

“O seu trabalho, à base de aguarela e colagem, é uma espécie de manipulação do papel.” – Claire Gilman, jurada responsável pela nomeação

MATEO LÓPEZ

Nasceu em Bogotá (Colômbia), em 1978. Vive e trabalha em Nova Iorque (Estados Unidos). O seu trabalho situa-se no que se pode chamar a prática expandida do desenho. Há uma atitude quase científica em relação aos desenhos, nos quais prevalece o desejo pela hiper-realidade e por uma certa teatralidade. Recentemente, as suas exposições transformam-se em desenhos tridimensionais, para serem explorados fisicamente quer pelo corpo dos visitantes, quer por performances de gestos e movimentos coreografadas com precisão por bailarinos profissionais. Mais do que um meio artístico, o desenho é para López uma ferramenta para habitarmos o mundo.

“Tem um trabalho em papel de grande qualidade artística, que fala do nosso tempo.” – María Inés Rodriguez, jurada responsável pela nomeação

Os restantes nomeados

No total, foram 15 nomeados, três por cada um dos cinco jurados. Conheça os dez que não passaram à fase final.

ANE METTE HOL – Noruega

O seu trabalho é caracterizado pela precisão, detalhe e ilusão, no qual o conceito de original e cópia são temas centrais. Isentas de quaisquer traços expressionistas e da “mão” da artista, as suas obras escondem a sua verdadeira materialidade, uma vez que, à primeira vista, os seus desenhos de objetos se confundem com os objetos em si, assemelhando-se antes a ready-mades.

ELIJAH BURGHER – Estados Unidos

Justapõe, através de retratos figurativos ou desenhos de símbolos abstratos, narrativas pessoais com referências a práticas ocultas, e com alusões a subculturas e estéticas queer. Integradas na construção de uma simbologia pessoal, cada obra cita ou funciona como uma espécie de ritual: apontando para desejos e histórias, sem que estes jamais sejam desvendados, nem que seja concedido ao espectador acesso ao seu significado.

HIPPOLYTE HENTGEN – França

É uma dupla de artistas composta por Gaëlle Hyppolyte e Lina Hentgen desde 2007, que cria, de uma forma quase surrealista, colagens feitas de recortes de revistas, gravuras, postais ou outras fontes imagéticas. Colocando questões sobre autoria, herança artística, o gosto e memória coletiva, as obras desta dupla inventam um universo fantástico, burlesco, absurdo, sexual, inquietante e excêntrico, que abre visões singulares e inesperadas sobre a realidade.

IGNACIO URIARTE – Espanha

Desenvolve uma prática de desenho que utiliza como suportes e ferramentas, maioritariamente, materiais que estão disponíveis num escritório comum, como aquele em que durante anos trabalhou enquanto administrador de uma empresa: post-its, máquinas de escrever, papel A4, esferográficas. Uriarte desenvolveu uma linguagem que tenta traduzir essa experiência numa estética de gestos repetitivos de aparência pictórica vibrante.

JUDITH HOPF – Alemanha

Desenvolve um corpo de trabalho que, através do desenho, escultura, vídeo e performance, explora o comportamento humano, bem como as suas dinâmicas e códigos sociais. Antropomorfiza, frequentemente, objetos do quotidiano, dando-lhes braços, cabelo, pernas ou cara, questionando a sua função e uso. Através de uma exploração do absurdo, Hopf questiona o estatuto da obra de arte.

LASSE KROG MØLLER – Dinamarca

Parte do conceito de arquivo para construir um corpo de trabalho sobre a memória e a preservação do quotidiano, bem como sobre a hierarquização e princípios inerentes às coleções. Krog Møller arquiva coisas efémeras, objetos humildes ou aparentemente sem importância, documenta e cataloga-os de forma obsessiva e sistemática, criando coleções que questionam poética e misteriosamente o que é ou o que deve ser preservado para a história futura do nosso tempo.

MARIANA CASTILLO DEBALL – México

Utiliza ferramentas oriundas de outras disciplinas, como a antropologia, etnografia e a história, para refletir sobre a forma como lemos, interpretamos e expomos culturas não ocidentais, em particular a cultura pré-colombiana mexicana. Cada objeto apropriado transforma-se num elemento performático que fala sobre o confronto de culturas e o apagamento, encorajando novas leituras da história, novas significações desses mesmos objetos, e encorajando um diálogo entre o passado e uma nova narrativa do presente.

MARTÍN VITALITI – Argentina

Baseia a sua obra num trabalho de exploração dos diferentes elementos que constituem a linguagem da banda desenhada. Através do uso de técnicas como a subtração ou adição, Vitaliti quer não apenas colocar o original, apropriado pelo artista, em tensão com a nova obra, mas também descontextualizar o significado e a história. No desejo de uma ressignificação de uma linguagem presente no imaginário coletivo, Vitaliti constrói novas narrativas que repensam o vazio, o desaparecimento e a ausência através de gestos mínimos.

RICCARDO BARUZZI – Itália

Desenvolve uma obra na qual a linha ganha especial destaque, em detrimento daquilo que o artista considera uma importância excessiva normalmente atribuída ao sujeito ou tema. Linha-pensamento, linha-gesto, linha-expressão, linha-escritura, linha-poesia, linha-ritmo e linha-lugar da evocação. Baruzzi explora e amplifica a tensão na fronteira entre a superfície e a inscrição da marca nesse mesmo espaço, numa obra onde a noção de incompletude é crucial.

REBECCA SALTER – Inglaterra

É uma pintora e gravadora especializada em impressão em xilogravura, que combina nas suas obras tradições ocidentais e orientais. Inspirada pela cultura japonesa, desenvolve um corpo de trabalho silencioso e poético de abstrações que evocam paisagens (físicas e climatéricas) construídas no jogo entre as marcas que ficam visíveis na superfície do papel (e da tela) e aquelas que já desapareceram.

Um júri de reputação internacional

– Claire Gilman, curadora chefe no Drawing Center, em Nova Iorque.

– Jacob Fabricius, diretor artístico e curador do Kunsthal Aarhus, na Dinamarca.

– Joana P. R. Neves, diretora artística da Drawing Now Art Fair, em Paris.

– Nimfa Bisbe Molin, diretora da Coleção de Arte da Fundação La Caixa.

– María Inés Rodríguez, curadora adjunta do Museu de Arte de São Paulo, no Brasil.

María Inés Rodriguez, Jacob Fabricius, Joana P. R. Neves, Claire Gilman, Nimfa Bisbe Molin

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