Partindo da análise de mais de 1 840 artigos científicos, os autores selecionaram e avaliaram detalhadamente 54 estudos que atendiam aos critérios de inclusão na meta-análise estatística que levaram a cabo: comparação de compreensão de leitura entre papel e digital, materiais de leitura comparáveis (tamanho e estrutura do texto), população normalizada (foco principal em estudantes sem deficiência) e data de publicação (após o ano 2000). A amostra incluiu mais de 170 000 participantes em 19 países dos cinco continentes. O estudo concluiu que o papel mostra uma clara vantagem sobre o digital na compreensão de leitura, mais ainda quando há restrições de tempo e/ou os textos são de cariz informativo. Além disso, a desvantagem da leitura em suporte digital tem aumentado ao longo dos anos, o que indica que as novas gerações não estão a suplantar a inferioridade do digital, pelo contrário.
A pesquisa foi liderada por Pablo Delgado, Cristina Vargas e Ladislao Salmerón, da Faculdade de Psicologia, com a colaboração de Rakefet Ackerman, do Instituto de Tecnologia de Israel, e foi cofinanciada pelo projeto europeu COST E-READ e pelo Ministério da Economia e Competitividade de Espanha. O artigo científico entitulado “Do not throw away your printed books: A meta-analysis on the effects of reading media on reading comprehension” foi publicado em setembro passado no Journal of Educational Research Review.
Em relação ao perfil do leitor, Ladislao Salmerón afirma que a superioridade do papel aumenta em pessoas com idade inferior a vinte anos: “A geração que tem hoje 16 anos mostra um efeito mais expressivo de superioridade do papel face ao efeito sentido pelas gerações anteriores. Para ser claro, as novas gerações entendem ainda melhor no papel do que nos dispositivos digitais, em comparação com as gerações anteriores”.
O estudo mostra que o efeito benéfico da compreensão da leitura em papel vs digital é 21% do desvio padrão face à média, um efeito que equivale a 2/3 do acréscimo médio anual na compreensão através da leitura durante o ensino básico. Note-se que no ensino básico é muito expressiva a proporção da compreensão da leitura atribuível ao facto de existirem manuais e livros escolares. Os autores reforçam assim que os ambientes digitais nem sempre são os mais apropriados para uma compreensão e aprendizagem profundos.