Os setenta pares de olhos dos alunos de mestrado da Nova School of Business and Economics – jovens de diversas nacionalidades que enchiam o salão da Herdade de Espirra com conversas em alemão, inglês, português e italiano – estavam a habituar-se à penumbra quando se ouviu um “absorvam a informação de hoje, porque vão precisar para as soluções que têm de encontrar”. O alerta era de Milton de Sousa, o professor responsável pela cadeira Global Management Practices, que achou que o tema dos incêndios florestais representava, na perfeição, o espírito do curso de Gestão Internacional, que pretende refletir sobre problemas difíceis de gestão global, através da perspetiva dos diferentes stakeholders das empresas.
Se a questão dos incêndios florestais é, de facto, difícil, já o desafio lançado aos alunos é simples: têm de apresentar, até final de março, dez propostas concretas com contributos para resolver o problema, uma ideia que entusiasmou a Navigator quando foi contactada pela Nova SBE para ajudar a dar a conhecer aos alunos a realidade nacional. A escolha da Navigator como case study foi natural, tratando-se de uma Companhia com presença mundial que está ativamente envolvida na prevenção e no combate aos fogos florestais em Portugal, e o passo seguinte foi agendar a visita de estudo que levou os alunos primeiro aos Viveiros Aliança e, depois, ao complexo industrial de Setúbal.
As janelas fechadas e as luzes apagadas no salão da Herdade de Espirra, onde se localiza um dos três viveiros da Navigator, preparavam o cenário para as apresentações que receberam os visitantes do polo de Carcavelos da Nova. Vídeos sobre a gestão sustentável da empresa, como isso ajuda a evitar os fogos, e a importância da certificação florestal; e uma intervenção da responsável pela Sustentabilidade, Paula Guimarães, sobre a floresta gerida pela Navigator, os fogos florestais no nosso País e as ações desenvolvidas pela Navigator nesse âmbito.
Só em 2018, relembrou Paula Guimarães em resposta às perguntas dos alunos, “investimos um total de 3,3 milhões de euros na prevenção (cerca 40% do investimento), no apoio ao combate e na participação no esforço nacional de combate aos incêndios, através da AFOCELCA, e participámos em 40 comissões municipais de defesa da floresta contra incêndios”. Perante a curiosidade dos alunos estrangeiros sobre o porquê de existirem tantas zonas de ignição em Portugal, Paula Guimarães resumiu algumas causas: “São mais de 400 000 proprietários florestais, muitos deles ausentes, que não fazem limpeza dos terrenos, nem reinvestem na floresta, nem vendem as terras por razões sentimentais.”
O berço da matéria-prima
Para compreender onde tudo começa, os estudantes da Nova SBE seguiram depois para uma visita aos viveiros, “onde são produzidas todas as mais de 30 espécies florestais que são plantadas em Portugal”, como explicou Carmen Correia, responsável de produção de plantas não florestais e uma das guias, juntamente com Ana Barros, responsável pela Qualidade. O passeio percorreu os berçários, não só de eucalipto e de sobreiro, mas também de plantas aromáticas, passando pela biofábrica, onde são feitas 140 mil estacas por dia, e pelas casas de sombra, onde as jovens plantas se começam a fortalecer.
Os visitantes conheceram os seis clones de Eucalyptus globulus que dão origem a todos os eucaliptos ali produzidos, aprenderam a fazer uma estaca a partir de um rebento e foram apresentados aos novos investimentos que estão a ser realizados nas infraestruturas dos viveiros, no valor de 1,2 milhões de euros, e que, garantiu o responsável pelos viveiros, Miguel Ferrinho: “permitirá aumentar, até 2020, de 6 milhões para 8,6 milhões a produção clonal de eucalipto e de 1,6 para 3,6 milhões a produção seminal. Com o novo processo de miniestacaria, a Navigator vai ainda em breve passar a conseguir produzir eucalipto durante os meses de inverno, com árvores-mãe semelhantes a bonsais”.
Enquanto isso não acontece, os alunos da Nova, acompanhados também pelos professores Pedro Teixeira Santos e João Loureiro Rodrigues, regressaram aos autocarros com promessas de voltarem durante os meses normais de produção de eucalipto – entre maio e setembro – para experimentarem plantar os seus próprios exemplares, e seguiram para o complexo de Setúbal da Navigator.
A fábrica de papel
Divididos em dois grupos, conduzidos pelo Diretor de Produção e Transformação de Papel de Setúbal, Paulo Barata, e por Filipe Neves, engenheiro do mesmo departamento, os visitantes ficaram a conhecer não só a fábrica de papel, a zona de converting e o armazém de expedição, como puderam constatar a política de integração do processo de fabrico, graças à presença da fábrica de polpa e da central de produção elétrica mesmo ali ao lado.
Para a Navigator, a visita foi, nas palavras de Paula Guimarães: “uma forma de darmos a conhecer os nossos modelos de gestão, que assentam numa política de sustentabilidade com preocupações desde a fonte da matéria-prima”. Para o docente da Nova “foi um percurso de aprendizagem, porque queremos que os alunos pensem em propostas inovadoras, que sirvam de estímulo para a Navigator, para esta poder dar resposta a este desafio dos fogos florestais incorporando uma lógica de valor acrescentado, tanto para os acionistas como para a sociedade em geral”. António Aires, o responsável pela área sul da Direção de Produção Florestal, admitiu: “Estamos ansiosos para ouvir as ideias que vão sair desta cadeira. Espero que sejam disruptivas. Vamos analisá-las e embora a Navigator já faça muito, sobretudo na prevenção, mas também na área do combate e até no pós-fogo, aguardamos com expectativa a hipótese de podermos fazer ainda mais.”
As lições da Navigator na luta contra os incêndios florestais
Na gestão dos fogos florestais existem três prioridades, pode ler-se no documento “Incêndios florestais, prevenção, combate e monitorização”, da autoria de António Aires e Ricardo Barrela, do departamento de Produção Florestal da Navigator, e de Paula Guimarães, responsável de Sustentabilidade da Companhia. A primeira é a prevenção, ou seja, a redução da probabilidade de ignição, obtém-se através da sensibilização e da informação das populações locais, do patrulhamento, da aplicação da lei e da avaliação dos riscos diários de incêndio. Aliás, a Navigator, em parceria com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa/ Instituto Dom Luiz, criou a plataforma online Cease Fire, com mapas interativos meteorológicos e florestais, e com índices de perigo de incêndio, previsões e estatísticas, que pode ser encontrado aqui.
A Companhia segue também um plano de operações florestais adequado à altura do ano e ao risco de incêndio. Em julho e agosto, por exemplo, não é feita limpeza de vegetação, porque há suspensão de atividade de corte quando há nível de alerta vermelho.
A segunda prioridade na gestão dos incêndios é a redução do impacto do fogo, que deve ser feita com recurso a desbastes e podas para evitar a competição entre as plantas, com gestão da paisagem em mosaicos de diferentes espécies e de vegetação com diferentes idades, e a gestão mecânica, manual, química ou com queimadas controladas, dos materiais que servem de combustível aos fogos.
A terceira prioridade é a minimização das consequências dos incêndios, com redução dos danos e acréscimo da resiliência, tendo por base uma rede organizada de estradas e de pontos de água, recolha e integração de dados em ferramentas de apoio, formação de recursos humanos, deteção e ação rápida dos recursos de combate aos fogos, seguros florestais e reabilitação florestal.
Uma gestão profissional, sustentável e certificada das florestas, garante todas estas prioridades.