25 Março, 2019 / Papel

O papel UWF e a humanidade: uma relação profunda

Qual o futuro do papel num mundo cada vez mais digital? É um meio antiquado, condenado ao desaparecimento, ou a coexistência com as novas tecnologias é possível e, até, desejável? E o que têm a dizer as novas gerações, nativas da internet? O estudo “Horizon 2030”, promovido pela The Navigator Company, aborda estas e outras questões, revelando também dados surpreendentes.

A equipa de projeto analisou mais de 500 estudos, papers e livros que confirmam as vantagens do papel sobre os ecrãs nos processos de aprendizagem, aquisição de conhecimento, desenvolvimento cognitivo e compreensão de textos informativos e complexos. Concluem que, na atual cultura digital intensa e em todos os grupos etários, o papel aporta benefícios cognitivos: no campo da neurociência surgiram estudos a demostrar uma clara ligação entre o movimento do braço – especialmente a escrever e desenhar – e o processo neurológico de aprendizagem; no campo da psicologia estudos experienciais evidenciaram que a escrita à mão potencia a aprendizagem e a performance conceptual quando comparado com a escrita em teclado; outros estudos académicos focaram a leitura, concluindo que ler em papel, por oposição a ler em dispositivos digitais, promove o pensamento abstrato, a concentração e um menor cansaço ocular.

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Vários dos estudos analisados foram elaborados por Universidades influentes, como Princeton e Carnegie Mellon, tendo o mais recente sido publicado pela Universidade de Valência em setembro do ano passado, apontando, claramente, para o screen inferiority effect na compreensão de leitura quando comparado com o papel. Todos estes artigos acabam por fundamentar as conhecidas preferências dos estudantes pelo estudo em papel. De facto, a maior pesquisa realizada sobre o tema, o estudo ARFIS (Academic Reading Format International Study), realizado a dez mil estudantes de 19 países diferentes, mostra que 82% se concentram melhor na matéria quando a leem em papel e que 72% se lembram melhor da matéria quando a leram em papel.

Com a preocupação de dar um enfoque específico à área da educação, foi realizado um estudo etnográfico ao longo de seis meses na Universidade de Stanford, no coração de Sillicon Valey. Aqui nasceram a Yahoo!, a Google, a Hewlett-Packard e muitas outras empresas tecnológicas. Nas aulas da sua Business School, no entanto, não se veem computadores portáteis ou tablets, mas antes livros, printouts, fotocópias e blocos de notas. O papel é parte integrante da dinâmica das aulas, presença obrigatória nos materiais de apoio, contribui para suportar trabalhos de grupo e marca até o ritmo da aula, ao criar um ambiente partilhado pelo grupo, com o som do virar de páginas em uníssono a assegurar a partilha entre todos.

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O papel tem vantagens importantes face ao digital nos terrenos da aprendizagem e do conhecimento

Os referidos estudos neurológicos, a par das preferências dos estudantes, fizeram com que o uso do papel, por vezes como suporte exclusivo na sala de aula, seja um comportamento encorajado nas principais universidades norte-americanas, nomeadamente em Harvard, Columbia, Cornell, Pennsylvania, MIT e Yale. Nesta última, na primavera do ano passado, numa das disciplinas mais frequentadas de sempre (“Psychology and the Good Life”, com 1200 alunos inscritos), lia-se no programa: “O uso de portáteis, tablets e telemóveis na sala de aula pode prejudicar a aprendizagem. Por esse motivo, não podem ser usados durante esta disciplina”.

O papel no local de trabalho

A transformação económica conduzirá a profissões mais alavancadas em skills de comunicação, colaboração, co-working, criatividade e critical thinking. A compreensão da utilização de papel nestes domínios da atividade humana é crucial para se perceber o futuro da procura de papel no mundo. Parece igualmente evidente que a acentuada penetração da automação de processos causará impactos significativos na utilização de papel. Neste contexto, a equipa de projeto optou por observar etnograficamente duas empresas industriais 4.0 na Alemanha, uma agência de notícias puramente online, um dos principais bancos de retalho ingleses e a Comissão Europeia.

No caso do Banco Lloyds, no Reino Unido, foram levados a cabo dois trabalhos de campo distintos: o primeiro na atividade comercial e de back-office do banco, profundamente afetada pela digitalização de processos e consequente forte redução da utilização de papel — embora continue presente; e o segundo no departamento de estratégia do Banco, onde o papel é o suporte universal no trabalho de investigação, pensamento e criação e respetiva partilha de ideias. Aqui, o papel é fundamental para o trabalho colaborativo e intelectual: permite que as ideias sejam moldadas em conjunto, revistas, anotadas e lidas.

Noutro dos case studies etnográficos, efetuado na redação de um jornal digital na Suíça, os investigadores perceberam que o papel é utilizado localmente, no escritório, enquanto o output da empresa, as notícias lançadas para o mundo, é puramente digital. Ou seja, as notícias são publicadas e comentadas online, mas são recolhidas, criadas, partilhadas e discutidas internamente com base em papel; o papel é usado para listar, organizar, anotar e editar, sendo também fundamental na hora de desenvolver e mostrar ideias aos editores do jornal.

No local de trabalho, o papel representa uma função importante na troca de ideias e no processo colaborativo

A par dos estudos etnográficos, a investigação levada a cabo pela equipa de projeto possibilitou uma segmentação granular da utilização de papel na Europa Ocidental e EUA. Foram analisadas as diferentes aplicações do papel de escritório e papel para uso gráfico, a intensidade da utilização de papel de escritório em cada setor económico e delineados cenários de evolução futura em cada um destes vetores, o que resultou num mapa privilegiado que contribui para sustentar o posicionamento de marketing do papel UWF da Navigator.

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O estudo “Horizon 2030” identificou ainda uma importante função-chave do papel enquanto meio de comunicação: sendo físico e estático, possui qualidades únicas, distintas do digital. Uma das mais importantes, neste aspeto, é a sua capacidade de ganhar (e manter) atenção e envolvimento. Por exemplo, um estudo da Neuro-Insight (2013) sobre campanhas de marketing revelou que “as qualidades físicas, quase sensuais, do papel impresso, conseguem desencadear uma resposta neurológica mais elevada do que os meios digitais (e-mail, TV)”.

O conhecimento acumulado no estudo, complementado com o mapeamento das atuais aplicações dos papéis UWF, permitiu segmentar as utilizações de papel nas seguintes funções-chave: “Think” (favorece o papel, como verificado nas universidades e no gabinete de estratégia do Banco); “Process” (desfavorável para o papel, como verificado na dimensão de back-office do Banco, dada a tendência de desmaterialização de documentos processuais); “Present” (potencialmente positivo, decorrente de atividades de targeted marketing e processos de trabalho colaborativo); e “Protect” (com aspetos positivos, nomeadamente proteção de objetos — packaging, embora com aplicação ainda incipiente no UWF —, e aspectos negativos, nomeadamente em aplicações de arquivo, pese embora a premência do debate sobre a segurança dos arquivos digitais).

Conclui-se que as previsões de uma queda abrupta do consumo de papel são exageradas, conforme explica António Quirino Soares, diretor de Marketing da Navigator: “Analisámos uma vasta literatura, fizemos estudos qualitativos, quantitativos, falámos com stakeholders que contribuem para moldar as tendências no mercado laboral e tecnológico e olhámos com particular atenção para os mais jovens. Concluímos que o futuro do UWF nos mercados maduros da Europa e EUA será o resultado líquido das quatro funções-chave (Think, Process, Present, Protect), havendo pontos positivos bem como pontos negativos atuando sobre a procura, não se esperando assim uma quebra abrupta da procura nestes mercados”.

O papel vai continuar a desempenhar funções importantes, com vantagens face ao digital, nos terrenos da aprendizagem, do conhecimento e do trabalho colaborativo. Está a deixar de ser usado em processos, mas tem oportunidades de crescimento em tudo o que é relacionado com ideias, criação, inovação — que são áreas muito ligadas às competências do futuro. E na tendência para maior personalização da comunicação das empresas, com pequenas tiragens de folhetos e brochuras, procurando distinguir-se num mundo em que o digital é tão massificado.

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O papel e os livros fazem parte da nossa vida, mesmo antes de sabermos ler

“O nosso tipo de papel UWF é o mais versátil tipo de papéis de uso gráfico”, refere o diretor de Marketing da Navigator, “e isso proporciona-nos maneiras de diversificar num vasto conjunto de aplicações, minimizando o risco de negócio. A diversificação geográfica, com venda num cada vez maior número de mercados, e a diversificação de portefólio de produtos dentro do UWF já estão em curso. Mantendo o foco na qualidade de produto e na inovação a todos os níveis do negócio, e alavancando nas versatilidades do produto e a sua adequação para “Think”, “Present” e “Protect” construiremos o sucesso comercial no futuro”.

Sendo um meio de comunicação milenar, versátil e universal, o papel tem reservado o seu lugar para futuro.

O que é o estudo Horizon 2030?

Durante toda a existência da marca bandeira da The Navigator Company — o papel Navigator —, o negócio enfrentou o mito do Paperless Office, nunca materializado, tendo, todavia, alcançado um crescimento sustentado nos exigentes mercados internacionais.

Contudo, a digitalização crescente nos meios empresarial, público e nos lares, com impacto nas respectivas formas de comunicar, bem como a chegada ao mercado de trabalho dos millenials e até da geração Z e a gradual penetração da automação e inteligência artificial nos ambientes de trabalho do futuro, motivaram a Navigator a estudar em profundidade o mercado dos papéis finos não revestidos (UWF) e as suas perspetivas futuras.

Buscando uma antevisão de potenciais disrupções no mercado, optou-se por realizar um estudo ele próprio disruptivo e possivelmente o mais completo e ambicioso realizado até hoje pelo setor papeleiro em todo o mundo, o Horizon 2030 – The Future of Uncoated Woodfree Paper Demand. Coordenado pela Direção de Marketing da The Navigator Company ao longo de 13 meses, contou com a participação de quatro empresas de diferentes especialidades de Research e a colaboração de mais de 30 técnicos especializados.

Para identificar e aprofundar os principais drivers do consumo de papel UWF, o estudo fez uso de diferentes metodologias prospetivas. Foram realizadas entrevistas em profundidade com líderes destacados de múltiplas empresas de ponta, como a Microsoft Artificial Intelligence, SalesForce, PWC, Follow Me, Canon, Heidelberg, entre muitas outras. A equipa realizou estudos etnográficos que, apoiados em técnicas do âmbito da antropologia, psicologia e sociologia, incluíram observação continuada in loco da utilização de papel em vários ambientes reais de trabalho e de aprendizagem, nas instalações de cinco organizações, nos EUA e em quatro países europeus. “Quisemos perceber atitudes, comportamentos e motivações, tanto no mercado de trabalho como nas universidades, para abranger os mais jovens”, explica António Quirino Soares, diretor de Marketing da Navigator.

O “Horizon 2030” focou essencialmente a Europa Ocidental e os Estados Unidos da América, mercados maduros, com padrões de consumo mais avançados e perfis de risco de queda da procura superiores, quando comparados com outras geografias menos amadurecidas.

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