24 Fevereiro, 2019 / Floresta

Vantagem das áreas florestais agrupadas

Um grupo de produtores florestais deitou mãos a um projeto inédito, que está a transformar a paisagem de Castanheira do Vouga. A área florestal agrupada (AFA) da Panasqueira, com 11 hectares, é gerida como um condomínio, e a sua gestão, seguindo as boas práticas florestais e a certificação, traz vantagens para a produtividade e para a minimização dos riscos associados aos incêndios, pragas e doenças.

O incêndio que devastou o concelho de Águeda em agosto de 2016 deixou marcas profundas, reduzindo a cinzas mais de 7 000 hectares, mas não quebrou a vontade das pessoas. Em Castanheira do Vouga, três produtores florestais mantiveram as mangas arregaçadas e em dezembro desse mesmo ano fizeram nascer um projeto que transformou a paisagem da freguesia. Proprietários de pequenas parcelas de floresta, Pedro Ferreira, Henrique Oliveira e Paulo Cyhlar decidiram juntar os seus terrenos e, mobilizando mais vizinhos, dinamizaram uma área florestal agrupada (AFA) de 11 hectares. Com a colaboração e o apoio da Associação Florestal do Baixo Vouga (AFBV), este projeto pretende ser o embrião para a recuperação da floresta da região.

“As AFA são áreas onde tentamos criar economias de escala ao nível da gestão florestal, percebendo que o grande problema de gestão é a pequena propriedade”, adianta Luís Sarabando, coordenador da AFBV, sublinhando as vantagens deste projeto: “Principalmente na facilidade de execução dos trabalhos, na poupança de custos, no aumento da produtividade e na salvaguarda dos valores ambientais e das boas práticas florestais, retirando a pressão sobre a utilização de cada metro quadrado da floresta.”

A responsabilidade ecológica e a minimização dos riscos são as maiores preocupações dos produtores aderentes. “Aqui podemos fazer uma cultura pensada e estudada”, refere Pedro Ferreira. “Agrupar não significa perder o título de propriedade. Numa área maior temos assessorias técnicas que o pequeno produtor normalmente não tem, e a possibilidade de fazer uma cultura bem feita, com limpeza de matos, caminhos que delimitem a propriedade e algum afastamento dos vizinhos que não cuidam dos seus terrenos”, acrescenta este produtor florestal.

Melhor produtividade com certificação

O grande objetivo das áreas florestais agrupadas é tornar a floresta rentável e sustentável. “O trabalho que desenvolvemos nestes projetos facilita o processo de certificação florestal, que obriga os produtores aderentes a cumprir determinadas normas e boas práticas”, afirma António Guimarães, presidente da AFBV, concluindo: “A certificação traz um acréscimo de rendimento que a indústria se dispõe a pagar, com um adicional no preço, pois nos mercados internacionais ninguém recebe um quilo de pasta ou uma palete de papel se estas não tiverem origem em matéria-prima certificada.”

Ciente do peso económico que a floresta representa, capaz de criar emprego, riqueza e valorização ambiental, o poder local olha para as áreas florestais agrupadas como uma solução para o planeamento e a gestão da floresta. O projeto de Castanheira do Vouga contou com o apoio da autarquia de Águeda, que facilitou a abertura de acessos e caminhos nos terrenos. Já em Vagos, a AFBV dinamizou uma AFA com 9 hectares, juntando 30 proprietários, com o apoio da autarquia local, que financia a introdução de espécies autóctones nas plantações de árvores de crescimento rápido.

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“Os proprietários são nossos parceiros”

A indústria da pasta e do papel considera da maior importância o agregar de áreas florestais, como forma de ultrapassar os problemas da gestão em minifúndio. “A The Navigator Company tem procurado desenvolver a floresta e apoiar os proprietários. Esta é uma indústria em crescimento, com expressão em todo o mundo e um dos setores mais sólidos da nossa economia”, afirma José Luís Carvalho, coordenador da Inovação e Desenvolvimento Florestal da Navigator, acrescentando: “Os produtores florestais são nossos parceiros neste processo, e a indústria não só garante a compra da madeira certificada, como também se disponibiliza a dar apoio técnico. Podemos ajudar melhor com os proprietários agrupados. O aumento da produtividade não se prende em termos de mais áreas, mas sim em termos de melhores áreas. Produzir muito melhor, com uma floresta mais cuidada e organizada.”

O objetivo das AFA é criar economias de escala ao nível da gestão florestal, ajudando os pequenos proprietários

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