Quando pensamos na The Navigator Company, pensamos nas fábricas e na produção do papel, isto é, na parte industrial. Mas há uma parte menos visível da Companhia, cuja importância tende a escapar a olhos menos atentos: a parte florestal. A Navigator é o maior proprietário privado florestal português e gere, em todo o país, um total de 110 mil hectares, distribuídos por 165 concelhos. A gestão deste património é responsabilidade das equipas de Produção e Exploração Florestal, que, divididas por quatro Zonas de Coordenação (Norte, Centro e Interior, Vale do Tejo, Sul), e em conjunto com o departamento de Proteção Florestal, planeiam e organizam o ciclo das operações florestais, desde a plantação até ao corte, passando pelas ações de controlo de vegetação para reduzir o perigo de incêndio. Durante os dias críticos, esta estrutura mobiliza-se para apoiar o combate aos incêndios.
E como é que tudo isto se processa? José Vasques, responsável da Zona de Coordenação do Vale do Tejo, explica: “A atividade florestal é uma atividade sazonal. Estamos expostos a essa sazonalidade do clima, pelo que tem de haver ao longo do ano uma planificação das atividades, de forma a adequar aquelas que melhor se adaptam a cada momento. Os nossos técnicos vão ao terreno, percorrem as áreas e fazem um levantamento das necessidades de intervenção. A maior parte da atividade florestal de manutenção é feita até meados de maio, dependendo um pouco de quando é que para de chover.” Estas operações de condução dos povoamentos são depois complementadas com as operações de proteção florestal.
Conhecimento e gestão florestal
Os povoamentos produtivos da The Navigator Company são constituídos, maioritariamente, por eucalipto (81 600 hectares), mas a Companhia gere também uma área significativa de sobreiro (1 600 hectares) e pinho (3 000 hectares). Independentemente da espécie, é a gestão florestal que assume um papel fundamental na prevenção de incêndios. E isto traduz-se em três pontos fundamentais: primeiro, evitar que aconteçam; em segundo, evitar que se propaguem quando acontecem; e, por último, evitar que causem danos significativos quando se dá a propagação.
A suspensão das atividades de exploração é determinante para evitar a deflagração de incêndios provocados por máquinas em dias de elevado risco meteorológico. E o controlo da vegetação assume também um papel determinante na minimização dos efeitos dos incêndios. “Num povoamento não gerido, a vegetação vai-se acumulando e cria condições para que as chamas rapidamente atinjam as copas das árvores e os incêndios fiquem incontroláveis”, explica José Vasques. “Para evitar este cenário, os técnicos identificam atempadamente as áreas onde existem situações críticas para, posteriormente, intervir na redução da carga de combustível e quebrar a continuidade vertical.” Assim, durante as suas inspeções, os técnicos identificam as áreas onde a vegetação começa a crescer e, posteriormente, intervém-se através de controlo mecânico, com máquinas ou limpeza moto-manual, e, em alguns casos menos significativos, com a aplicação de herbicidas.
Quando a primavera começa a chegar ao fim, o foco das equipas muda, concentrando-se então na manutenção dos caminhos e aceiros. E não se pense que é tarefa fácil: na área gerida pela Navigator existem cerca de 17 mil quilómetros de caminhos florestais. Os técnicos das Zonas de Coordenação percorrem-nos todos, para verificar se, após o inverno e as chuvadas, houve situações em que ficaram danificados, sendo necessário proceder ao seu recondicionamento. Só assim é possível certificar que, numa eventual situação de incêndio, a acessibilidade está garantida.
“Trata-se, portanto, de preparar a floresta ao nível das acessibilidades e da redução da carga de combustível, para que, na eventualidade de um incêndio, os meios de combate possam chegar rapidamente e intervir de forma segura e eficiente”, diz José Vasques.
As equipas têm vários técnicos, que fazem este trabalho prévio de identificação das zonas a intervir. Cada um deles tem uma área atribuída, que é exclusiva, cuja gestão é da sua responsabilidade. Por terem uma presença constante no terreno, conhecem-no como ninguém, e isso é extremamente importante. Para além do terreno e das suas acessibilidades, eles conhecem os vizinhos e os agentes locais (associações de produtores, municípios, bombeiros, GNR…).
Muitos deles já trabalham na Companhia há 15, 20, ou mais de 25 anos, sempre numa base muito local, ou seja, têm um conhecimento daquilo que é o território e daquilo que têm sido os eventos de fogo ao longo do tempo no território. “Porque, habitualmente, há um padrão nos incêndios”, explica José Vasques, “e esse conhecimento do passado também nos pode ajudar a conhecer de que forma podemos otimizar as intervenções. Quando intervimos no terreno, fazemo-lo porque há todo um trabalho prévio e todo um conhecimento do passado. Os técnicos sabem que tem havido ignições naquele ponto nos últimos anos, que o vento costuma ter determinado comportamento, e por isso é importante antecipar medidas corretivas para proteger o património. Isto é eficiência. É perceber como rentabilizar o efeito positivo na prevenção. Esse conhecimento dos técnicos é muito relevante, porque com o despovoamento dos territórios são cada vez menos os que conhecem o terreno e que cuidam da floresta. Ou seja, fala-se dos fogos durante o verão, mas ao longo do ano há muito pouca gente na floresta. E a lógica de gestão florestal, de prevenção e depois do combate, tem de ser uma lógica integrada e anual”.
Estreitar laços
Dentro deste trabalho de prevenção e de preparação do terreno, há também uma parte importante de comunicação e de integração com outros agentes. A Navigator está presente em comissões municipais de defesa da floresta contra incêndios, a sua opinião é ouvida e colabora na identificação das prioridades de intervenção e na otimização das intervenções de prevenção no território e dos meios de combate desses municípios.
“Temos de criar e fortalecer relações com os outros agentes”, refere José Vasques. “Porque nós não resolvemos tudo sozinho. Se todos nos focarmos numa determinada direção, estreitarmos os laços e colaborarmos uns com os outros, obviamente que o resultado final é mais otimizado e melhor para todos. É isso que nós fazemos, com as câmaras, com as associações florestais, com as corporações de bombeiros… É muito mais fácil trabalhar com quem já conhecemos, com quem falamos a mesma linguagem e sabemos como atuam, do que com alguém desconhecido, que chega com a melhor das intenções, naturalmente, mas depois não há esse conhecimento que permita saltar passos e começar logo a trabalhar de forma mais eficiente e eficaz.”
Em jeito de resumo, José Vasques identifica três fatores-chave para uma prevenção acertada: “Lógica de presença e conhecimento profundo do território ao longo do tempo, identificando as intervenções que temos de fazer e fazendo-as por antecipação. Lógica de relacionamento entre as diversas forças e entidades, porque é importante que todos falemos a mesma língua. E lógica de conhecimento técnico. Se fizermos tudo isso e juntarmos todas estas peças, no final da campanha teremos maior probabilidade de as coisas funcionarem melhor e os danos serem menores”.
A gestão da floresta é fundamental
Mais do que procurar a ligação entre uma ou outra espécie e os incêndios, é preciso gerir de forma cuidada a floresta. A investigação científica, e a prática no terreno, mostram que um povoamento florestal pouco gerido acumula combustível e reage ao fogo de forma muito semelhante, independentemente da espécie que o constitui.
Assim, num território não cuidado, o número de ignições aumenta, enquanto nas áreas com gestão profissional de eucaliptais os incêndios são menos frequentes e as suas consequências são menores. A área ardida nas plantações com gestão profissional, propriedade das Empresas Industriais da Fileira do Eucalipto, tem sido, na média dos últimos dez anos, de 1,4% da área total gerida. A gestão ativa, isto é, a força humana a limpar e a cuidar da floresta, reduz significativamente o perigo de incêndio. Com este objetivo, a The Navigator Company investe, cerca de três milhões de euros por ano na prevenção e controlo de fogos florestais.
“Muitas vezes, observamos que há oportunidades criadas pela prevenção estrutural (faixas de gestão de combustíveis, caminhos, etc.) que não são aproveitadas pelo combate porque as equipas não conhecem o território. Porque temos uma visão integrada, nas áreas de gestão da The Navigator Company procuramos acompanhar e apoiar as operações de combate para potenciar os trabalhos de prevenção. Esta visão é a grande mais-valia que temos dentro da organização atual.”
Gestão florestal da Navigator
110 425 hectares de área florestal total
81 600 hectares de eucalipto
1 600 hectares de sobreiro
3 000 hectares de pinho
900 hectares de outras espécies
12 070 hectares de áreas de conservação
8 500 hectares de infraestruturas
2 755 hectares de outras ocupações
Prevenção em 2018
3,34 M€
valor médio (total) investido em ações DFCI (Defesa da Floresta Contra Incêndios), dos quais:
2 M€
valor aproximado investido em prevenção em 2018, dos quais:
1,05 M€
limpeza e controlo da vegetação em 9 500 hectares
290 000€
conservação da rede viária em 3 150 km